Desmistificando as Siglas e o “Dicionário” da Escoliose – Dra. Ariane Marinho – Parte 1 

A escoliose é uma condição complexa que envolve diversas abordagens de tratamento. Para quem começa a se inteirar sobre os tratamentos, siglas como SOSORT, EFEE, EIA, SEAS, Schroth e BSPTS podem parecer confusas e até assustadoras. No entanto, compreender o que cada uma representa e como elas funcionam pode ser um passo essencial para escolher o tratamento mais adequado. Acompanhe-nos neste primeiro artigo visa desmistificar algumas dessas siglas, explicando os métodos mais conhecidos e sua importância no manejo da escoliose.

Os Exercícios Fisioterapêuticos Específicos para Escoliose (EFEE) são recomendados logo após o diagnóstico de escoliose idiopática do adolescente (EIA). Esses exercícios são a primeira etapa no tratamento da escoliose, com o objetivo de prevenir ou limitar sua progressão e, em alguns casos, evitar a necessidade de coletes ortopédicos (NEGRINI et al., 2012).

Especialistas da SOSORT (Sociedade Internacional de Reabilitação e Tratamento Ortopédico e Esportivo) definem os EFEE como compostos pelos seguintes componentes principais:

• autocorreção tridimensional;
• prática dessa autocorreção em atividades cotidianas;
• estabilização da postura corrigida;
• educação do paciente.

A primeira abordagem é o SEAS (Scientific Exercise Approach to Scoliosis), um método amplamente estudado e recomendado para pacientes que desejam melhorar a postura e estabilizar a coluna por meio de exercícios específicos.

SEAS: Abordagem Científica para Exercícios na Escoliose

A Abordagem Científica para Exercícios na Escoliose (SEAS, do inglês “Scientific Exercise Approach to Scoliosis”) é uma metodologia terapêutica desenvolvida para o tratamento conservador da escoliose. Criado pelo ISICO (Instituto Científico Italiano da Coluna Vertebral), o SEAS se destaca por sua base em estudos científicos e pela ênfase em exercícios específicos, adaptados às necessidades e condições de cada paciente. Diferente de outras abordagens, o SEAS não apenas visa corrigir a curvatura da coluna, mas também fortalece a consciência corporal do paciente, permitindo que ele atue ativamente no controle e na estabilidade da sua postura.

O objetivo central do SEAS é, por meio de exercícios, proporcionar uma estabilização ativa e dinâmica da coluna. No método SEAS, o paciente trabalha o fortalecimento muscular e o controle postural, desenvolvendo uma melhor percepção e compreensão de sua própria postura. Esse processo é vital para a correção de assimetrias e descompensações causadas pela escoliose. Durante o tratamento, cada movimento e exercício é cuidadosamente monitorado por um fisioterapeuta especializado, garantindo que o paciente execute as ações de forma correta e segura.

A metodologia do SEAS envolve uma série de exercícios específicos, selecionados para cada tipo e grau de curvatura. Esses exercícios visam melhorar o alinhamento corporal e aumentar o controle sobre a postura por meio de estímulos progressivos e sistemáticos. Para isso, são utilizados exercícios de mobilização da coluna e técnicas de controle respiratório, que ajudam na conscientização e no fortalecimento dos músculos profundos da coluna. A prática regular permite que o paciente adquira autonomia no cuidado da postura, promovendo uma estabilidade funcional que auxilia na prevenção do agravamento da curvatura.

Um dos grandes diferenciais do SEAS é que ele não exige o uso de aparelhos ou dispositivos ortopédicos. Em vez disso, o método é baseado em exercícios funcionais e adaptativos, o que possibilita que os pacientes pratiquem os movimentos até mesmo em casa, sem a necessidade de equipamentos específicos. Isso facilita a adesão ao tratamento, especialmente para adolescentes que podem incluir o SEAS em suas rotinas diárias, tornando o processo terapêutico mais acessível e menos invasivo.

Os benefícios do SEAS vão além da correção postural. Estudos demonstram que essa abordagem pode trazer ganhos importantes na qualidade de vida do paciente. Redução de dores, melhora no equilíbrio e no controle muscular, e diminuição da progressão da curvatura são alguns dos principais resultados observados com o SEAS. Outro ponto importante é que, ao fortalecer a musculatura responsável pela sustentação da coluna, o SEAS ajuda a prevenir complicações futuras e melhora a funcionalidade corporal, proporcionando mais independência ao paciente.

Apesar de o SEAS ser especialmente eficaz para escolioses leves a moderadas, o acompanhamento de um fisioterapeuta especializado é indispensável para que os exercícios sejam adequadamente ajustados às necessidades de cada paciente. O tratamento SEAS pode ser integrado com outras abordagens conservadoras, como o uso de coletes ortopédicos, quando necessário, potencializando ainda mais os resultados.

A abordagem SEAS traz uma visão mais ativa e participativa para o tratamento da escoliose. Ao envolver o paciente no processo, ela transforma o tratamento em uma oportunidade de autoconhecimento e fortalecimento corporal, contribuindo para uma postura mais saudável e uma melhor qualidade de vida. Em resumo, o SEAS não apenas corrige, mas também educa o paciente a reconhecer e gerir sua postura de forma consciente, ajudando-o a conviver de maneira mais equilibrada com a escoliose.

Já o Método Schroth é uma abordagem que se concentra na realização de exercícios tridimensionais e foi desenvolvido na Alemanha:

Método Schroth: Reeducação Postural para Escoliose

O Método Schroth é uma abordagem terapêutica não cirúrgica para o tratamento da escoliose, focada em exercícios tridimensionais que buscam corrigir as deformidades da coluna. Desenvolvido na Alemanha na década de 1920 por Katharina Schroth, o método é baseado na ideia de que, por meio de exercícios específicos, é possível alcançar uma postura mais alinhada e reduzir a progressão da curvatura da coluna. O Schroth visa não apenas a reeducação postural, mas também a melhora da respiração e da simetria corporal, tratando cada paciente de maneira individualizada.

O método Schroth utiliza exercícios personalizados para cada tipo de curva da escoliose, tratando a coluna de forma tridimensional: nos eixos sagital, frontal e transversal. Isso significa que ele considera as curvas nos planos da frente, de lado e em rotação, permitindo uma correção mais precisa. Ao longo do tratamento, são utilizados movimentos de alongamento, fortalecimento e, especialmente, de controle respiratório, promovendo uma “des-rotação” da coluna e a melhora da postura do paciente.

Uma das técnicas mais características do Schroth é a chamada respiração rotacional. Durante os exercícios, o paciente aprende a expandir as áreas comprimidas da caixa torácica por meio de respirações profundas e controladas, o que ajuda a restaurar uma maior simetria e a aliviar as áreas de pressão nas regiões afetadas pela escoliose. Esse processo, além de corrigir as assimetrias da coluna, melhora a oxigenação dos tecidos e fortalece a musculatura que suporta a coluna, contribuindo para a estabilidade geral da postura.

O tratamento Schroth exige a supervisão de um fisioterapeuta especializado, que adapta os exercícios às necessidades individuais de cada paciente, considerando a idade, o tipo de curva e o grau de progressão da escoliose. Em geral, as sessões são compostas por um conjunto de movimentos que se concentram em fortalecer as áreas enfraquecidas e alongar as áreas comprimidas. Essa abordagem intensiva e individualizada ajuda a reduzir as dores e a minimizar o impacto da escoliose na vida do paciente.

Além da correção física, o Método Schroth também oferece benefícios psicossociais importantes. Ao se envolver ativamente em seu tratamento, o paciente desenvolve uma maior autoconfiança e uma relação mais positiva com o próprio corpo. Essa abordagem também torna o tratamento menos dependente de aparelhos ou coletes, pois promove uma consciência corporal duradoura que pode ser levada para a vida toda.

Estudos mostram que o Método Schroth é especialmente eficaz em adolescentes durante o crescimento rápido, fase em que o risco de progressão da escoliose é maior. Contudo, o método pode ser aplicado em qualquer idade e também é benéfico para adultos que buscam controlar dores e melhorar a funcionalidade da coluna. As pesquisas indicam que o Schroth pode reduzir o grau de curvatura em alguns pacientes e evitar a necessidade de intervenções mais invasivas, como a cirurgia, quando praticado de forma consistente.

Em resumo, o Método Schroth combina o fortalecimento físico, a reeducação postural e o controle respiratório para oferecer uma abordagem completa no tratamento da escoliose. Com sua visão holística, o Schroth tem ganhado reconhecimento global como uma alternativa eficaz que, além de corrigir a coluna, ensina o paciente a gerenciar sua condição de forma proativa e consciente.

BSPTS (Barcelona Scoliosis Physical Therapy School)

A BSPTS (Barcelona Scoliosis Physical Therapy School), como o nome sugere, foi desenvolvida pela Escola de Fisioterapia de Barcelona e é uma variação do Método Schroth. Adaptada para tratar casos de escoliose em adolescentes, a BSPTS enfatiza exercícios de fortalecimento muscular e correção postural para controlar a progressão da escoliose, principalmente durante a fase de crescimento.

Fundada na Espanha por Dr. Manuel Rigo, a BSPTS combina a essência do Método Schroth com conceitos atualizados de biomecânica e reabilitação para oferecer uma terapia personalizada e mais precisa para pacientes com escoliose idiopática. A escola de fisioterapia tem como base a correção tridimensional da escoliose, auxiliando o paciente a melhorar a simetria da coluna por meio de exercícios específicos e controle postural.

No BSPTS, a escoliose é compreendida em sua complexidade tridimensional, e o foco está na educação e no treinamento de fisioterapeutas para aplicarem os exercícios de forma altamente personalizada. Assim como no Schroth, o BSPTS enfatiza o fortalecimento da musculatura postural e o alívio das áreas sobrecarregadas da coluna, mas vai além ao incorporar uma análise aprofundada da estrutura do corpo do paciente e de sua resposta individual aos movimentos e ajustes. O objetivo é treinar a correção ativa e a estabilidade da coluna durante atividades cotidianas, integrando essas correções aos movimentos e à postura do paciente.

A técnica central do BSPTS é a correção postural em 3D para fortalecer a musculatura e estabilizar a coluna. Os exercícios incluem ajustes respiratórios, como a expansão das costelas através da respiração direcionada, para ajudar a “descomprimir” e “des-rotacionar” as vértebras e costelas nas regiões afetadas pela escoliose. Esse foco na respiração, aliado aos movimentos corretivos, ajuda o paciente a desenvolver uma nova consciência corporal e a aprender a manter uma postura mais alinhada, mesmo fora das sessões de terapia.

Um diferencial do BSPTS é a adaptação do tratamento conforme o estágio e a idade do paciente. Jovens em fase de crescimento, que possuem um risco maior de progressão da escoliose, se beneficiam das sessões para desacelerar ou evitar o avanço da curvatura. Já os adultos, que podem apresentar dor crônica e desconforto, encontram no BSPTS uma ferramenta de alívio da dor e melhoria da qualidade de vida, com fortalecimento postural e consciência de movimento para gerenciar melhor sua condição ao longo do tempo.

Outro aspecto crucial do BSPTS é o treinamento dos fisioterapeutas, que recebem um alto nível de especialização para analisar cada tipo de curva e estrutura corporal. Por isso, a BSPTS é considerada uma terapia segura e precisa para tratamento conservador da escoliose, com eficácia no controle da progressão da curvatura e no desenvolvimento de uma postura funcional. O trabalho intenso entre paciente e fisioterapeuta busca não apenas a melhora postural, mas também a autonomia do paciente para manter os resultados obtidos e evitar agravamentos futuros.

Estudos sugerem que o BSPTS é eficaz na redução da progressão da escoliose e pode, em alguns casos, diminuir a necessidade de tratamentos invasivos, como o uso de coletes ou mesmo cirurgias. No entanto, o sucesso do método está na prática consistente dos exercícios e na cooperação entre o paciente e o profissional treinado, que ajusta o plano de tratamento conforme as mudanças da condição.

Em resumo, o BSPTS é uma evolução do Método Schroth com uma abordagem moderna e fundamentada cientificamente. Ele oferece aos pacientes com escoliose um tratamento seguro, de alta qualidade e que se adapta a cada estágio da condição, com foco na reeducação postural, estabilização e qualidade de vida.

Esses métodos são muitas vezes recomendados por profissionais de saúde, especialmente fisioterapeutas, para evitar intervenções cirúrgicas em casos de escoliose leve a moderada. É importante que o tratamento seja direcionado por um especialista que conheça as necessidades específicas de cada paciente. A escolha do método mais adequado depende de vários fatores, incluindo idade, tipo e gravidade da escoliose, além do estilo de vida do paciente.

O SEAS, Schroth e BSPTS não são as únicas abordagens para o tratamento da escoliose, mas são amplamente reconhecidas e respaldadas por evidências científicas. Compreender esses métodos pode dar ao paciente e à família maior confiança na decisão do tratamento, sabendo que eles estão investindo em abordagens eficazes e seguras. Além disso, ao conhecer as siglas e os conceitos envolvidos, o paciente pode participar de forma mais ativa e informada no próprio tratamento.

É fundamental desmistificar as siglas e simplificar os conceitos para tornar o processo de tratamento menos assustador. Escoliose não precisa ser uma sentença; pelo contrário, com as opções corretas e um acompanhamento especializado, é possível alcançar excelentes resultados e uma boa qualidade de vida.

Concluindo, SEAS, Schroth e BSPTS são opções de tratamento eficazes, mas que exigem dedicação e orientação profissional. Para quem vive com escoliose, essas abordagens representam esperança e controle sobre a condição. Com isso, o paciente consegue focar naquilo que realmente importa: sua saúde e bem-estar.


Fonte: https://www.researchgate.net/publication/31199349
https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0302577